sábado, 23 de julho de 2011

Silva, número 1, junho 2011

O escritor e enxadrista Ricardo Lísias, autor de, entre outros, O livro dos mandarins (Editora Alfaguara), lançou um jornal semestral chamado Silva. Na primeira edição, de junho, ele nos brinda com um excelente texto sobre xadrez, bochechas e Evo Morales (isso mesmo, o presidente da Bolívia).

Com autorização do autor, o Vida em Miniatura publica abaixo trechos da obra e deixa aos interessados em adquirirem um exemplar do Silva (a distribuição é gratuita) o contato do escritor: rlisias@yahoo.com.br


Escrevam rápido, pois os exemplares estão acabando!



Evo Morales
(Por Ricardo Lísias, em Silva - número 1, junho de 2011)

1

Quando tomei café com Evo Morales pela primeira vez, ele ainda não tinha sido eleito presidente da Bolívia e eu, muito menos, havia conquistado o título de campeão mundial de xadrez. Lembro perfeitamente da situação: minha mãe estava voltando da Austrália, para onde tinha ido visitar meu irmão. Ela chegaria ao Brasil através de uma conexão na cidade de Buenos Aires. Um pouco antes do horário marcado para o desembarque, descobri que o voo da minha mãe atrasaria duas horas. Resolvi tomar um café para passar o tempo. No balcão, quando estava para pedir a segunda xícara, notei um tipo curioso ao meu lado.

(...)

2

Cruzei com Evo Morales pela segunda vez na área de trânsito do Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Eu estava indo para Moscou, onde tomaria um voo doméstico com destino à pequenina Khanty-Mansiyski, para disputar a Copa do Mundo de Xadrez.

(...)

4


Evo Morales não estava no café em que Dvoretsky me levou. Abatido, resolvi me conformar e canalizar toda a minha energia para a Copa do Mundo. Seriam sete rodadas, com duas partidas cada uma.

Eu, de fato, era um dos favoritos. Tive certeza de que venceria, porém, quando fiz dois a zero no simpaticíssimo Vassily Ivanchuk, a lenda ucraniana do xadrez. Quem entende de esporte sabe que a confiança é fundamental.  Os vencedores, além disso, compreendem muito bem um tipo especial de sentimento: em algum momento da competição, a gente sente que vai vencer. Com a derrota, a história é bem outra. Em todas as vezes que perdi, descobri só na hora mesmo.

Depois de Ivanchuk, passei sem muito problema por um Topalov fora de forma e enfrentei na final o armênio Levon Aronian. A primeira partida foi muito tensa. (...)

8

Venci o Torneio de Candidatos sem muita dificuldade. Ao contrário do que eu esperava, Alexei Shirov foi quem mais me deu trabalho. A certa altura, achei que perderia. Não analisei com calma (muito menos coloquei no computador até hoje), mas acho que quando entramos no apuro de tempo, ele estava com a partida ganha. Lá pelas tantas, com uns cinco segundos para fazer três lances, Shirov cometeu um erro e acabou perdendo dois peões de uma vez só. Aí ganhei fácil.

(...)

No Brasil, dei duas ou três entrevistas e depois concentrei-me na preparação. Kramnik nunca foi um adversário fácil para mim. Como ele tinha a vantagem do empate, o treinamento precisaria ser ainda mais intenso. Mas eu não queria deixar de lado meu compromisso com a Bolívia. Por isso, mandei um email para o endereço que achei no site oficial da presidência. Como não recebi resposta, resolvi enviar um telegrama para Evo no palácio de governo em La Paz. Passaram dois meses e ele não me respondeu. Decidi, então, fazer uma viagem de uma semana à Europa. Um descanso.

Amigo Evo venci torneio candidatos serei desafiante bochechas crescendo sem tempo mas penso montar estrutura xadrez Bolívia juntos descobriremos campeões venha amigo ver disputa título Alemanha julho até café amigão

14

"Evão. Você se ofende se eu chamá-lo assim? Assim: Evão, o bochechudo. Evo Morales, as maiores bochechas do mundo. Evo Morales. (...)

***

Escreva para o autor pelo email rlisias@yahoo.com.br

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